Como parte da preocupação em desenvolver um turismo na Serra da Canastra que seja socioecologicamente e culturalmente correto e integrante, temos o interesse e a preocupação de estar sempre envolvidos com as comunidades locais. Por hora, isso acontece principalmente no distrito de São João Batista da Serra da Canastra.
Na busca para entender e participar dos processos culturais, sociais, econômicos e ecológicos acontecendo na Serra da Canastra, tive a oportunidade de participar da tradicional festa de São Jõao nos dias 24, 25 e 26 de junho no arraial de São João Batista da Serra da Canastra, lá permanecendo por outra semana e participando na educação dos alunos do quarto ano do ensino fundamental da professora Renilda.
FESTA DE SÃO JOÃO EM SÃO JOÃO BATISTA DA SERRA DA CANASTRA
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From fotos festa sao joao |
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From fotos festa sao joao |
Das tradições originais, ficaram as fogueiras, a missa, procissão e fogos. Já se mostram esquecidas a quadrilha, as comidas típicas, os balões. Apesar do salão comunitário ter recebido uma banda que tocava músicas tradicionais, o som que tomou conta foi o do barulho: diversos carros e camionetes com sons de boate, cada qual tocando sua música diferente (eletrônica, axé, sertanejo “universitário”, dentre outras), que podiam ser ouvidas nas fazendas mais afastadas, onde a energia elétrica ainda nem se faz presente.
Desta festa de três dias, que no último chegou a ter aproximadamente 1500 pessoas, ficou muita sujeira, e o total desrespeito pelos moradores locais, que de uma forma geral pouco ganharam em termos econômicos e culturais com seu tradicional acontecimento.
Há ainda, a grande contradição de tamanho barulho e sujeira nos limites de um Parque Nacional, principalmente, se levado em conta que foi liberado o trânsito livre de veículos dentro do Parque por toda a noite, carregando todo o tipo de produtos e acessórios necessários ao divertimento individual. Não é difícil imaginar, portanto: veículos transitando por mais de 50Km dentro do parque para chegar até São João; em velocidades excedentes ao limite regular de 40Km; com som em alta “voltagem”; e com a produção de lixo ao longo do caminho (como foi visto quando pedalando na segunda-feira, depois da festa, por 20Km na estrada que liga São João à São Roque de Minas): perturbação descabida da fauna e flora.
Não sou a favor de proibições em relação ao transporte de bebidas alcoólicas como é determinado pelo Instituto Chico Mendes com base em São Roque de Minas, especialmente se for por pessoa local, em sua rotina de ida e vinda às cidades do entorno da Serra da Canastra; já que muitas das vezes tem-se na estrada do parque a forma de ligação entre elas. Mas, claro, desde que haja a educação e consciência de não beber ao dirigir e não jogar lixo nas estradas – valendo também para os turistas que freqüentam o parque. Entretanto, abrir brecha a esta proibição, durante três dias e três noites de grande celebração festiva, me parece uma atitude tomada em momento inoportuno e um paradoxo muito grande àquele promovido por um órgão que busca a defesa do meio ambiente. O efeito foi claro: sujeira no parque; a perda econômica das pessoas locais que deixaram de assegurar um comércio; a oportunidade de se promover a educação como melhor forma de conservação e respeito pela natureza.
Fica aqui a preocupação de se conversar, pensar, resgatar e participar nas tradições locais que são tão importantes para todos os participantes desta festa, que reúne diversas pessoas, e que possui, portanto, a possibilidade de trazer grandes ensinamentos culturais, inclusão social e econômica; mas um festa onde os participantes tem o dever de agir com respeito e responsabilidade para com a comunidade e meio ambiente locais.
Por fim, me pareceu que a Festa de São João está passando menos pelo esperado, e muitas vezes bem vindo, processo de transformação ou adaptação às novas culturas contemporâneas/modernas, e mais por um processo de afogamento de uma cultura que se formou por centenas de anos, pela e para uma cultura que reflete pouco respeito e coletividade em suas ações (como ainda é sentida e vivida por aqueles que visitam a região), seja para com as pessoas do lugar ou de fora, seja para com o arraial ou o ambiente de reserva. Penso que vale a pena refletir sobre tal acontecimento, e buscar saber se ele tem valor e, portanto, se é querido por aqueles que lá ficam por todo o ano.
AULAS DE INGLÊS E SUSTENTABILIDADE PARA A TURMA DA PROFESSORA RENILDA
Uma semana de grande trabalho, aprendizado e relacionamento. Foram assim as manhãs de aula junto aos alunos do quarto ano do ensino fundamental.
Brincamos com as novas palavras em inglês, sorrimos delas e para elas, mas também nos aborrecemos com tamanha necessidade de disciplina e atenção na busca do aprendizado. Contudo, acho que saímos mais maduros para as possibilidades, diferenças e capacidades que a vida nos oferece.
Foi ensinado aos alunos como contar até mil em inglês, vocabulário de substantivos relacionados à comida (vegetais, legumes, derivados do leite, carne, etc.) e a fauna e flora locais, e alguns verbos. Também se aprendeu a fazer algumas perguntas e a dar respostas simples com o vocabulário introduzido.
Também conversamos sobre o funcionamento de nosso planeta, mostrando a complexidade e envolvimento de diferentes elementos, como ar, água, terra, correntes marítimas, a cultura humana, a fauna e flora para o bom desequilibrado equilíbrio da vida.
Saímos para praticar sustentabilidade no arraial de São João ao mesmo tempo em que praticávamos a cidadania e tirávamos proveito do trabalho coletivo. Fomos ajudar o catador de lixo do arraial (o Zé) em sua solitária e árdua tarefa de limpar o vilarejo depois da Festa de São João. Em um grupo de 16 crianças, mais a professora Renilda e eu, nós passamos duas horas coletando lixo aos arredores da escola. O envolvimento das crianças foi excelente, inclusive pedindo aos adultos do arraial que passavam para que não jogassem lixo no chão. O trabalho foi produtivo e nos rendeu 8 sacos de ração cheios de lixo, deixando o ambiente mais limpo e seguro e promovendo a participação ativa na busca por um espaço que reflita maior bem estar e respeito para todos, portanto, mais sustentável.
É realmente fantástica a capacidade que as crianças têm de absorver coisas novas; de aprender. É triste quando isso não está disponível de forma democrática e ampla para todas as crianças. Fica aqui o pedido: aqueles que puderem de alguma forma ajudar, não o deixe de fazê-lo, pois é altamente gratificante.
Fica aqui meu carinhoso agradecimento para todos os alunos da Tia Renilda, por seus esforços e paciência: Igor, Luiz, Franciel, Felipe, Bruna, Nathalia, Janice, Ana Luisa, Isadora (será que estou certo??!!), Daniela, Fernanda, Nataniel, Gabriela, Guilherme, João Victor, Walmira (será que acertei? Se não me desculpem novamente!). Um grande agradecimento à Renilda por ter me aberto as portas de sua sala com tamanha afeição; e pela oportunidade que a escola e os demais professores como um todo me ofereceram (fica a certeza de querer participar em diferentes turmas).
Até a próxima, e que seja muito em breve!
Abraço a todos,
Leo