Ao contrário da pouco estudada genealogia sócio-ecológica da região da Serra da Canastra, sua biologia, fauna e flora têm tido mais atenção nos meios acadêmicos e por instituições públicas e privadas. O Parque da Serra da Canastra pertence ao domínio do cerrado, e está localizado no sudoeste do estado de Minas Gerais. A vegetação do cerrado abrange aproximadamente 25% do território brasileiro, compreendendo parte dos estados de MG, SP, BA, GO, TO, MT, MS e o DF, chegando até áreas da região Amazônica. No cerrado da Serra da Canastra há a presença de campos limpos, com grande número de flores em determinadas épocas do ano; o cerrado stricto sensu, com a presença descontínua de diversas espécies de árvores, havendo arbustos e subarbustos entre elas; o cerradão, que apresenta árvores de grande porte; e os campos rupestres, ocorrendo normalmente em áreas acima dos novecentos metros e que são caracterizados pela presença de rochas, onde há alto endemismo de flora e fauna. Há ainda a importante presença de matas ciliares e matas de galeria nesta região.
No cerrado da Serra da Canastra, habita grande número de animais. Os mamíferos mais conhecidos são: o lobo-guará, o tamanduá-bandeira, o veado-campeiro, e o saguí-de-tufo-preto; dentre os répteis mais comuns estão diversas espécies de cobras, como a cascavel, a jararaca e a coral, assim como vários lagartos e sapos; mas são as aves (com mais de 350 espécies registradas) que marcam de forma especial a fauna da Serra da Canastra, incluindo entre elas, o tucano-de-bico-verde, o tucanuçu, o pato-mergulhão, a águia-cinzenta,vários tipos de papagaios, beija-flores, dentre vários outros.
A região da Serra da Canastra apresenta um grande número de nascentes e tributários que alimentam as bacias do Rio São Francisco - ao norte - e Rio Paraná - ao sul. Por isso a Serra da Canastra é considerada um divisor de águas do território brasileiro. Vale uma digressão para chamar a atenção com relação ao cuidado com as nascentes e cursos de água na Serra da Canastra: cuidado na conservação das matas ciliares e de galeria; no combate do uso indiscriminado de pesticidas agrícolas que acabam por contaminar as nascentes, mananciais e rios; cuidado na prevenção de incêndios; e o cuidado para engajar os diversos atores sociais (pequenos, médios e grandes fazendeiros, moradores locais, turistas, instituições públicas e privadas) em sérios e longos projetos educativo - ambiental sobre a importância da água como fonte da vida.
O Parque Nacional da Serra da Canastra foi criado em 1972 com uma área de 200 mil hectares, mas só ocorreu a regularização de 72 mil. Em sua regulamentação, foram expulsos pessoas e famílias que viviam dentro de sua área, sendo que poucos foram recompensados. Hoje acontece uma nova fase de desapropriação na tentativa de se alcançar o limite original do decreto de 1972. Há muita polêmica e controvérsias envolvendo o tema, e os moradores das terras que se encontram dentro deste limite estão confusos e preocupados por não saber ao certo o que, como e quando vai acontecer referida desapropriação. Neste espaço, há a predominância de pequenas áreas rurais que ainda guardam as experiências da forma do viver fortemente ligadas a esse nosso recente passado, se caracterizando em uma cultura - a do homem do campo, pequeno produtor de leite para a tradicional arte de fazer o queijo canastra - que se mostra a cada dia menos preparada para manter sua identidade e tradições.
Esses pequenos fazendeiros da Serra da Canastra são parte integrante desse novo espaço chamado Parque Nacional da Serra da Canastra e, por isso, qualquer proposta nova de tratamento desse meio ambiente (conservação e preservação ambiental e o desenvolvimento do turismo que se venha a desenvolver dentro e fora do parque) não pode deixar de salvaguardar a identidade e tradições desses moradores, sob pena de se perder não só um valor cultural e histórico, especialmente aquele do mineiro, mas também a possibilidade de se criar e gerar um desenvolvimento que seja amplamente sustentável.
A Serra da Canastra é com certeza tudo aquilo que normalmente as entidades ambientais e do turismo a simbolizam. Entretanto, ela é muito mais do que a mera representação simbólica tenta criar ou se apoderar, pois além das inúmeras e belas cachoeiras, muitas delas fora do conhecimento e alcance da grande maioria das pessoas que visitam o parque, além de seu cerrado com sua fauna e flora especialmente ricas e até únicas, além da abundância e força de suas águas, a Serra da Canastra apresenta grandes valores culturais e históricos que são ainda pouco conhecidos e valorizados.
Nesse lugar de grandeza e singularidade, a pessoa que gosta do descanso simples e espontâneo, em meio a região de montanha, em contato com as águas e as forças de suas quedas e ao alcance da calorosa hospitalidade da cultura mineira, vai, com certeza, encontrar uma boa maneira para revigorar e refrescar, mente e corpo!
Fontes:
Jeronymo, Leonardo de Brito, 2008. Tese de Mestrado. "Reconstruindo a Identidade da Natureza: desenvolvimento sustentável, ecoturismo, e o papel das comunidades locais na Serra da Canastra".
Silva, Robson Silva e Silveira, Luís Fábio, 2006."Serra da Canastra: Tesouros Naturais do Brasil"
MMA/IBAMA, 2005. "Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Canastra".
http://www.serradacanastra.com.br/parque/PM_PNSC_Resumo_Executivo.PDF
