VOLUNTARIADO E PESQUISA

Trabalho voluntário e pesquisa: de 24 de junho a 04 de julho de 2010.

Como parte da preocupação em desenvolver um turismo na Serra da Canastra que seja socioecologicamente e culturalmente correto e integrante, temos o interesse e a preocupação de estar sempre envolvidos com as comunidades locais. Por hora, isso acontece principalmente no distrito de São João Batista da Serra da Canastra.

Na busca para entender e participar dos processos culturais, sociais, econômicos e ecológicos acontecendo na Serra da Canastra, tive a oportunidade de participar da tradicional festa de São Jõao nos dias 24, 25 e 26 de junho no arraial de São João Batista da Serra da Canastra, lá permanecendo por outra semana e participando na educação dos alunos do quarto ano do ensino fundamental da professora Renilda.

FESTA DE SÃO JOÃO EM SÃO JOÃO BATISTA DA SERRA DA CANASTRA

From fotos festa sao joao
From fotos festa sao joao
Em relação à festa de São João, é com certa preocupação que, novamente, verifiquei a avançada perda das tradições e aspectos culturais desta festa que tem suas origens na Europa durante a Idade Média e, localmente, possivelmente com a construção da igreja em São João Batista; dita ter aproximadamente 180 anos.

Das tradições originais, ficaram as fogueiras, a missa, procissão e fogos. Já se mostram esquecidas a quadrilha, as comidas típicas, os balões. Apesar do salão comunitário ter recebido uma banda que tocava músicas tradicionais, o som que tomou conta foi o do barulho: diversos carros e camionetes com sons de boate, cada qual tocando sua música diferente (eletrônica, axé, sertanejo “universitário”, dentre outras), que podiam ser ouvidas nas fazendas mais afastadas, onde a energia elétrica ainda nem se faz presente.

Desta festa de três dias, que no último chegou a ter aproximadamente 1500 pessoas, ficou muita sujeira, e o total desrespeito pelos moradores locais, que de uma forma geral pouco ganharam em termos econômicos e culturais com seu tradicional acontecimento.


Há ainda, a grande contradição de tamanho barulho e sujeira nos limites de um Parque Nacional, principalmente, se levado em conta que foi liberado o trânsito livre de veículos dentro do Parque por toda a noite, carregando todo o tipo de produtos e acessórios necessários ao divertimento individual. Não é difícil imaginar, portanto: veículos transitando por mais de 50Km dentro do parque para chegar até São João; em velocidades excedentes ao limite regular de 40Km; com som em alta “voltagem”; e com a produção de lixo ao longo do caminho (como foi visto quando pedalando na segunda-feira, depois da festa, por 20Km na estrada que liga São João à São Roque de Minas): perturbação descabida da fauna e flora.

Não sou a favor de proibições em relação ao transporte de bebidas alcoólicas como é determinado pelo Instituto Chico Mendes com base em São Roque de Minas, especialmente se for por pessoa local, em sua rotina de ida e vinda às cidades do entorno da Serra da Canastra; já que muitas das vezes tem-se na estrada do parque a forma de ligação entre elas. Mas, claro, desde que haja a educação e consciência de não beber ao dirigir e não jogar lixo nas estradas – valendo também para os turistas que freqüentam o parque. Entretanto, abrir brecha a esta proibição, durante três dias e três noites de grande celebração festiva, me parece uma atitude tomada em momento inoportuno e um paradoxo muito grande àquele promovido por um órgão que busca a defesa do meio ambiente. O efeito foi claro: sujeira no parque; a perda econômica das pessoas locais que deixaram de assegurar um comércio; a oportunidade de se promover a educação como melhor forma de conservação e respeito pela natureza.


Fica aqui a preocupação de se conversar, pensar, resgatar e participar nas tradições locais que são tão importantes para todos os participantes desta festa, que reúne diversas pessoas, e que possui, portanto, a possibilidade de trazer grandes ensinamentos culturais, inclusão social e econômica; mas um festa onde os participantes tem o dever de agir com respeito e responsabilidade para com a comunidade e meio ambiente locais.

Por fim, me pareceu que a Festa de São João está passando menos pelo esperado, e muitas vezes bem vindo, processo de transformação ou adaptação às novas culturas contemporâneas/modernas, e mais por um processo de afogamento de uma cultura que se formou por centenas de anos, pela e para uma cultura que reflete pouco respeito e coletividade em suas ações (como ainda é sentida e vivida por aqueles que visitam a região), seja para com as pessoas do lugar ou de fora, seja para com o arraial ou o ambiente de reserva. Penso que vale a pena refletir sobre tal acontecimento, e buscar saber se ele tem valor e, portanto, se é querido por aqueles que lá ficam por todo o ano.


AULAS DE INGLÊS E SUSTENTABILIDADE PARA A TURMA DA PROFESSORA RENILDA

Uma semana de grande trabalho, aprendizado e relacionamento. Foram assim as manhãs de aula junto aos alunos do quarto ano do ensino fundamental.

Brincamos com as novas palavras em inglês, sorrimos delas e para elas, mas também nos aborrecemos com tamanha necessidade de disciplina e atenção na busca do aprendizado. Contudo, acho que saímos mais maduros para as possibilidades, diferenças e capacidades que a vida nos oferece.

Foi ensinado aos alunos como contar até mil em inglês, vocabulário de substantivos relacionados à comida (vegetais, legumes, derivados do leite, carne, etc.) e a fauna e flora locais, e alguns verbos. Também se aprendeu a fazer algumas perguntas e a dar respostas simples com o vocabulário introduzido.

Também conversamos sobre o funcionamento de nosso planeta, mostrando a complexidade e envolvimento de diferentes elementos, como ar, água, terra, correntes marítimas, a cultura humana, a fauna e flora para o bom desequilibrado equilíbrio da vida.

Saímos para praticar sustentabilidade no arraial de São João ao mesmo tempo em que praticávamos a cidadania e tirávamos proveito do trabalho coletivo. Fomos ajudar o catador de lixo do arraial (o Zé) em sua solitária e árdua tarefa de limpar o vilarejo depois da Festa de São João. Em um grupo de 16 crianças, mais a professora Renilda e eu, nós passamos duas horas coletando lixo aos arredores da escola. O envolvimento das crianças foi excelente, inclusive pedindo aos adultos do arraial que passavam para que não jogassem lixo no chão. O trabalho foi produtivo e nos rendeu 8 sacos de ração cheios de lixo, deixando o ambiente mais limpo e seguro e promovendo a participação ativa na busca por um espaço que reflita maior bem estar e respeito para todos, portanto, mais sustentável.


É realmente fantástica a capacidade que as crianças têm de absorver coisas novas; de aprender. É triste quando isso não está disponível de forma democrática e ampla para todas as crianças. Fica aqui o pedido: aqueles que puderem de alguma forma ajudar, não o deixe de fazê-lo, pois é altamente gratificante.


Fica aqui meu carinhoso agradecimento para todos os alunos da Tia Renilda, por seus esforços e paciência: Igor, Luiz, Franciel, Felipe, Bruna, Nathalia, Janice, Ana Luisa, Isadora (será que estou certo??!!), Daniela, Fernanda, Nataniel, Gabriela, Guilherme, João Victor, Walmira (será que acertei? Se não me desculpem novamente!). Um grande agradecimento à Renilda por ter me aberto as portas de sua sala com tamanha afeição; e pela oportunidade que a escola e os demais professores como um todo me ofereceram (fica a certeza de querer participar em diferentes turmas).


Até a próxima, e que seja muito em breve!

Abraço a todos,
Leo